sexta-feira, 30 de outubro de 2009

AS CARTAS

(vai entender...)Sou descendente de italianos e de portugueses. Tive a felicidade de conviver com meus avós durante grande parte da minha vida de quem guardo carinhosas recordações. Minha avó paterna nasceu na Ilha da Madeira, e era descendente de ingleses. Muito branquinha, olhos azuis ela era um doce de pessoa. Mesmo sem recursos, sempre ajudava aos imigrantes que chegavam em busca de seus sonhos. E, naquela época, a única forma de comunicação com a família era através de cartas, o que ela fazia regularmente. Mas ela tinha uma mania; não gostava da sua caligrafia e, embora escrevesse bem, sempre me chamava para preencher os endereços nos envelopes e depois me dava um dinheirinho para os selos. Em 2002, resolvi visitar a Ilha da Madeira com minha esposa. Afinal, é parte da nossa origem. De origem vulcânica, sua topografia acidentada oferece paisagens maravilhosas para o turista. Num determinado dia, perguntei a um primo de minha esposa, que nos servia de guia, se ele conhecia o Pinheirinho, local para onde eu postava a maioria das cartas. Disse ele que sim e como estávamos próximos do local decidimos descer até lá. O caminho mais parecia uma pintura onde o asfalto, sem acostamento, desenhava caprichosamente na encosta do morro. De repente, num dos poucos lugares que poderiam passar dois carros, havia um jipe estacionado. Na sua porta estava escrito “Oficina Góes”. Um senhor que estava em pé encostado no guincho nos acompanhava desinteressado. Parei o carro e perguntei se ele morava ali, e ele acenou afirmativamente com a cabeça. Em seguida perguntei se ele chamava-se Góes, e ele agora respondeu que sim. Então desfechei a pergunta fatal, se ele havia conhecido Agostinha Góes no que ele aproximando-se do nosso carro disse claro que sim, pois ela era sua tia. Quando lhe disse que eu era neto dela, o homem transformou-se numa criança. Fez questão de que estacionássemos e veio nos receber oferecendo sua casa. Minutos depois já havia chamado toda família, etc. Mais tarde, em meio a taças de vinho e, claro, sempre falando sobre minha avó, ele contou que se lembrava muito bem dela porque ele escrevia os endereços nos envelopes das cartas que seu pai enviava para o Brasil. E, sem muito esforço foi capaz de lembrar o endereço. Quando eu lhe contei que era eu quem escrevia nos envelopes das cartas que ela mandava para o pai dele, foi emocionante.

(Reprodução - Colaboração do Quintal que é brother há mais de 30 anos, apreciador e produtor de bons vinhos)

6 comentários:

Helio Herbert disse...

Ir em busca de nossas raízes é sempre muito gratificante...Costumo com frequencia passar por lugares onde pequenino caminhei de mãos dadas com meu avô paterno que era Italiano e minha avó que era Portuguesa.Eles me levavam para jantar na Pizzaria Braseiro na Celso Garcia e também na Cantina 1020 na rua Barão de Jaguara(o 1020existe até hoje)Agora é minha vez de levar meus 2 netos para passear.

Belair disse...

Mais,mais histórias do Quintal,por favor,e sem detrimento das dicas gastronomicas.
Ano retrasado estava viajando a negócios e me reuní com alguns desconhecidos,entre eles um engenheiro de 32 anos,cujo sobrenome pronunciei corretamente quando lí no cartão.Surpreso,me perguntou como eu sabia a pronúncia sendo que todos sempre perguntavam como seria,já que era bem complicado.Informei que eu havia estudado aos 14 anos de idade(40 atrás!)numa escola onde lecionava uma professora com aquele sobrenome,alguem de quem eu gostava muito,pois era ótima professora,muito simpática tambem.
Esse encontro se deu no Kuwait,eu em missão comercial brasileira,tendo estudado em Beirut,Líbano,nos anos 60 e 70,e o engenheiro de 32 à epoca,Daniel,estudou no Líbano,França e Estados unidos e acabou se empregando numa construtora do Kuwait,chefiando a construção do maior shopping center do país.
O Daniel era filho da minha professora,e desatou a chorar de emoção e saudades, e me levou junto no choro.
Mundo pequeno...

Buonanno disse...

Belair,

por conta de amigos como você e dos seus comentários é que a gente tem ânimo de escrever aqui no blog.

Valeu!

Um abração.

Belair disse...

Obrigado Miltão,e eu gosto muito de vir aqui.Só não comento mais alongadamente porque voce já sabe; sou ruim pacarai de teclado.Um comentário meu como esse aí acima é um parto,hahahaha.

Quintal disse...

Ao Helio, quero dizer que vez ou outra vou ao 1020 que eu gosto muito e não canso de ver as fotos...
Ao Belair, pode saber que adorei sua história. Estou muito feliz por você ler e comentar as minhas histórias. E mais uma coisinha, eu falei que foi emocionante, mas na verdade nós choramos muito...
E finalmente ao Milton, realmente muito feliz o que voce escreveu. Abraço a todos.

Speed disse...

É isso aí, Belair! Mais e mais histórias do Quintal!

Um grande amigo meu sempre dizia que o mundo era pequeno e eu sempre negava, dizendo que casos assim eram coincidências.

Depois que encontrei sem querer em um hotel de Paris um casal de brasileiros que conheciam meu pai, comecei a mudar de idéia...

Belissimo post!