sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O CARDÁPIO

Sempre ouvimos falar das diferenças na língua portuguesa entre nós e os portugueses. Aqui mesmo já contamos a história da Langerri. O caso de hoje é outro exemplo dessa lista inesgotável de exemplos. Naquela noite, nosso grupo estava grande, composto mais ou menos por umas doze pessoas. Geralmente, quando coincidiam as atividades nos clientes e diversas equipes se reuniam em Portugal, sobretudo o jantar era uma tarefa árdua para quem se arriscava em organizar. Conciliar a vontade de tanta gente não era nada fácil e geralmente terminávamos nos separando. Mas naquela noite havia sido diferente. Pela proximidade do hotel, quando alguém sugeriu irmos todos ao restaurante Frascatti houve consenso muito mais pela facilidade do que propriamente pela comida que era apenas razoável. O Hotel Meridien e o Frascatti ficavam praticamente junto ao parque Eduardo VII, um grande jardim onde inclusive realizam-se, no verão, eventos como a Feira do Livro de Lisboa. Chegamos lá, juntamos as mesas e sentamos. O garçom, já conhecido da maioria de nós, trouxe-nos um cardápio e entregou-o a um colega nosso. Passados alguns instantes, o garçom não voltava, nosso colega permanecia lendo o cardápio e a coisa não fluía. O cardápio passava de mão em mão, às vezes voltava para a mesma pessoa que resolvia rever a opção escolhida e o tempo foi passando, passando, passando... Já se podia notar aquela impaciência natural quando os clientes têm fome e o serviço é lento. Foi quando um colega teve a iniciativa de ajudar: chamou o garçom novamente e lhe perguntou se não tinha outro cardápio. O garçom, num tom muito explicativo, respondeu que ter ele tinha sim e que até poderia trazê-lo, mas que o outro cardápio era igual ao primeiro. Difícil mesmo foi não rir e ainda explicar que era apenas para agilizar as escolhas, no que ele atendeu prontamente. Mas, àquela altura, era tarde. O Frascatti já tinha dado sua inesquecível contribuição para a lista.

(Reprodução - Colaboração do Quintal que é brother há mais de 30 anos, apreciador e produtor de bons vinhos)

6 comentários:

Francisco J.Pellegrino disse...

A conta é mais baixa que no Nello's.....

Helio Herbert disse...

Uma vez em um restaurante em Piracicaba na Rua do Porto
perguntamos para o garçon o que é que tinha para comer e ele disse:

Eu e a cozinheira...

É claro que preferimos uma posta de dourado na brasa.

Belair disse...

Até hoje ninguem me explicou com clareza porque eles interpretam tudo exatamente ao pé da letra.Porque as sutilezas das expressões lhes foge?
Mas é realmente engraçado.

Buonanno disse...

É exatamente isso. Levam tudo ao pé da letra. Raciocinio reto, muito diferente do nosso.

Speed disse...

Tive o privilégio de ouvir essa história contada pelo próprio Quintal. É muito engraçada! Conto e reconto a meus amigos, como um exemplo real, não inventado, de piada de português.

Esta versão em texto tem um requinte especial.

João Manuel disse...

A nível da restauração, uma das cosias que mais detesto, cá em Portugal (só e apenas por causa da conjugação dos verbos...) é a velha gracinha:
- Eu queria...
- Queria? Já não quer!?
...
A ultima vez que ouvi isso tinha tido uma manhã complicada e apenas respondi!
- Queria que vosse bem educado...! Mas estou a ver que isso é pedir muito, por isso fico-me apenas pelo prato do dia!
...e não foi mesmo o que veio?